quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sim, eu desisto.

Se ser brasileiro é não desistir jamais, esse é mais um ponto em que tenho outra nacionalidade.

Já desisti de muitas coisas. Desisti de viver sozinha, há 06 anos. Desisti de insistir no meu casamento. Desisti de ser consultora. Desisti de dar aulas no ensino fundamental e médio. Desisti de uma porção de objetos. Desisti de uma amiga, recentemente. Em breve vou desistir do meu afeto não correspondido.

Algumas vezes foi cansaço. Outras, porque todos os meus recursos e possibilidades se esgotaram. Outras, porque não percebia mais nenhuma resposta às minhas ações. Outras, porque mudei de ideia. Outras, porque me deu preguiça e o objeto não valia tanto esforço.

Tenho muita esperança na capacidade das pessoas, por isso, sou muito persistente. No caso atual, estou tentando há 06 (seis) anos. Mas, a situação não vai mudar. Então, mudo eu. E desisto.

Mudar é, em primeiro momento, desistir. Mudar é abandonar o que é para tentar o que pode ser.

Pra mim, foi uma liberdade imensa descobrir que posso desistir de praticamente tudo. Só não abro mão da única pessoa que vai me acompanhar por toda a minha existência: eu mesma.

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo
." (Fernando Pessoa, Poema em Linha Reta)

2 comentários:

cidissima disse...

Mudança e transformação! Renúncia jamais!
Pode-se, por opção, abandonar o que não faz falta. Pode-se barganhar, emprestar, negociar, ajuizar, declarar, mas renunciar nunca!
É perigoso deixar um hiato entre mudar e desistir. É nesse exato momento que existe uma grande probabilidade de alguém menos avisado viajar e passar-se por nós!

Cida

Osvando Faria disse...

Adoro este Poema em linha reta. Toda vez que preciso de redenção, de perdoar a mim mesmo e aceitar minha humanidade eu o leio.