sábado, 30 de maio de 2009

30/05/1979

Minha irmã fazia 15 anos e eu ajudava a soprar as velinhas.

Das pessoas da foto, só me lembro do rapaz de óculos (Alexandre) e do homem com a mão na cintura (Domingos). Eram nossos vizinhos.

Fazia um frio do cão, como se pode perceber pelas blusas. Eu gostava absurdamente desse capuz verde: me sentia um pouco chapéuzinho vermelho repaginada. A blusa vermelha por baixo era um "collant". Estilo não era o forte desse tempo.

Olho a foto, penso em Ana Clara que tem agora 15 anos e fico um pouco triste. Não é mais o desespero dos primeiros meses: só a falta que me fazem os ausentes.


Ausência
Carlos Drummond de Andrade

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Possibilidades

"A gente se acostuma com os cantos por onde anda e com as pessoas com quem convive, com nossas condições de vida e valores. A gente se acostuma com os próprios costumes e vai cultivando, assim, uma espécie de cegueira. Não vê que a vida é múltipla, irregular, e que os homens são criaturas que protagonizam novidades infinitas."

Isso está na coluna de Dulce Critelli, na Folha Equilíbrio de hoje.

Gostei muito da frase, exatamente porque gosto da variedade da vida. Por isso gosto de feira, de andar a pé pela cidade, de ir ao Centro no sábado pela manhã: todas aquelas pessoas e suas cores, escolhas e histórias.

O Centro da minha cidade - da maioria das cidades, eu imagino - é tão interessante: gente vendendo raízes milagrosas, pregadores, famílias com suas melhores roupas, crianças e velhos, estudantes realizando uma pesquisa qualquer, cegos vendendo bilhete, pobres pedindo, moradores de rua... e a lista pode seguir ao infinito. Ao infinito, porque a diversidade humana é ilimitada.

Gosto de andar olhando essas diversidades e imaginando minha vida daquele jeito: vivendo na rua, sendo homem, evangélico, policial, o louco da esquina... Em mim vivem todas essas possibilidades. Eu fiz algumas escolhas, que permitiram essa versão da minha história. Muitas outras não foram vividas.

Costumo pensar em outras profissões: se eu trabalhasse na saúde, por exemplo, preferiria ser enfermeira à médica. Arquiteta, em lugar de engenheira. E não tenho por certa minha sanidade ou o respeito à lei. Não estou segura se, com o estímulo certo, não seria capaz de matar, morrer ou enlouquecer.

Como se eu fosse um caleidoscópio: um giro e sou essa. Outro giro e mudei. Mas, sempre eu, assente sobre os mesmos pés.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Saudades

Hoje foi difícil encontrar a imagem certa para o fotolog. Ou não: eu queria a foto de um amigo ausente, mas, ela não estava disponível e aí, nenhum outra servia.

Acabou sendo a capa de "Lua Nova", o livro da série de Stephenie Meyer que estou lendo essa semana e fez sentido depois: "Lua Nova" é a história de uma ausência, de uma saudade, pelo menos até onde li.

E ando com saudades imensas de Ana Clara, que me emprestou o livro, e Ana Júlia. Não as vejo há quase seis meses (SEIS!!!!) e os dias se vão tão depressa, a vida delas muda tão rapidamente que a distância me dói ainda mais fundo.

Saudades também de Philipp e essas são sem remédio, me parece. Sonhar só aumenta a ausência, só faz a falta ainda maior. "E não sei onde estás, nem com quem"...

Falando em russos, tem também umas saudades menores de um amigo que deve ter viajado para lá por esses dias. Essas são levezinhas porque nos vimos há um mês apenas.

É que a gente vai repartindo o coração entre esses afetos e tem dias em as partes faltantes começam a doer. Mesmo que tenhamos um pedaço do coração do outro conosco.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Livros

O caderno de tecnologia - ou informática - do Estadão falou novamente sobre o fim dos livros. Eu leio, olho minha pequena biblioteca, as aquisições (03) deste mês e fico pensando nesse mundo futuro em que vou viver.

Será que eles deixam de existir? Será?


Eu adoro o objeto "livro". E acho que quem gosta de ler, é assim como eu: gosta mais do que da história, gosta do virar de página, do fechar o livro extasiado/emocionado/indignado. A concretude do objeto nos seduz. Dá até pra reconhecer o tipo: nos reunimos nas livrarias, nos finais de semana, olhando, manuseando, "namorando" esses objetos do desejo.


Então me ocorreu se a nova geração se prenderia mais ao conteúdo do que à forma. As leitoras que conheço na faixa dos 15 anos desmentem o argumento: apesar de lerem versões digitais ou emprestadas, compraram seus próprios exemplares das histórias favoritas.


Um mundo sem livros não é um mundo sem histórias, e me lembro de Fahrenheit 451 na versão de François Truffaut quando penso nisso. Mas, pra mim, um mundo sem esses objetos do sonho (e Mr. Sandman tem uma vasta bibioteca pra provar o que estou dizendo) vai ser um tanto mais triste.


(Na foto, a minha linda nova edição dos Sermões do Padre Vieira)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Distante

Andei bem ausente, mas, os dias estavam tão cheios esse mês, finais de semana trabalhando... entreguei os pontos, confesso!

O que tenho feito? Me rendi a duas curiosidades que me acompanhavam há tempos: lendo a série "Crepúsculo" e ouvindo Leonard Cohen.

"Crepúsculo" foi aparecendo na mídia, minha sobrinha leu compulsivamente, o filme saiu e eu resistindo. Acho que parte era desconfiança com as unanimidades, parte eram leituras acumuladas, o fim do mestrado...

Estou no segundo volume - Lua Nova - e achando melhor que os primeiros Potters, por exemplo. A ver no que vai dar.

Leonard Cohen: em algum filme ouvi músicas dele, com outros intérpretes. Aconteceu de novo. Aí começaram as notícias na imprensa porque ele saiu em turnê recentemente. Well, me rendi: baixei as músicas do Live in London.

Que voz é essa? Espetáculo!!! Me lembra Nick Cave, que gosto muito, com um repertório... diferente.

Ouvindo essas músicas, lendo esses - e outros - livros, vivendo esse outono tão bonito na minha cidade, libertada do Mestrado: AMÉM!!!!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

12 de maio, 10h

Esse é o exato momento em que minha irmã faz falta: ela cá estaria ou se teria feito presente por flores exuberantes e um bilhete em que diria ter certeza do meu sucesso estrondoso.

Esse é o momento de que falou Saint-Exupéry, em que ela se rouba, em sua inteireza, ao meu abraço.

sábado, 9 de maio de 2009

Tudo novo de novo



Ando assistindo a essa série, que passa às sextas, na Globo, depois do "Globo Reporter" e gostado bastante.

Clara e Miguel não são deslumbrantes, não usam roupas espetaculares, ela repete acessórios... Isso os torna muito comuns, verossímeis, próximos, e gosto dessa sensação.

O episódio de ontem, pra mim, foi dos melhores, especialmente pela forma como abordou um tema espinhoso: aborto. Cuidado, solidariedade feminina, liberdade de escolha foram a marca. Muito bom.

Acho que o melhor é que "Tudo novo de novo" mostra uma vida de verdade, em que as coisas dão absurdamente errado, coincidências irreais acontecem, as pessoas têm medo, celulite, barriguinha. E podem ser felizes assim mesmo.

Confesso: fico esperando a hora da coisa começar, nas últimas semanas.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A semana

Deeeeeeeeeeeus, que semana!

Começo de mês e meia dúzia de prazos a cumprir. Mais banca na próxima semana (aleluia, Senhor!), trabalho no sábado, U2 cover no domingo... e todas as "pessoas literais" do mundo querendo falar com você.

Pessoas literais: aquelas que recebem um panfleto "Reserve sua agenda!" e ligam perguntando se é para escrever o evento na agenda delas. Sim, ainda existe gente tão simplória. De verdade. É tão inusitado que você pensa que estão gozando com a sua cara. Não estão.

E amanhã, evento fora do escritório. Quem me conhece sabe que eu adoro palco, discurso e ter que aparecer enfatiotada. Jaysus!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Cartas

Terça passada João Pereira Coutinho falou sobre o desaparecimento das cartas em sua coluna na Folha. Uma série de coincidências antecedeu e sucedeu esse fato.

Eu havia recebido uma carta de duas ou três páginas no final de semana. Ando folheando as cartas de Vincent Van Gogh a seu irmão Theo. No Valor Econômico de quinta publica-se a resenha de um livro de cartas de amor (ao lado da resenha de um livro do João Coutinho!!!).

Na sexta à noite, abro aleatoriamente o livro de Van Gogh e leio essa carta, de 1882:

"Quero fazer desenhos que impressionem certas pessoas. [...]

Seja na figura, seja na paisagem, eu gostaria de exprimir não algo sentimentalmente melancólico, mas uma profunda dor.

Em suma, quero chegar ao ponto em que digam de minha obra: este homem sente profundamente, e este homem sente delicadamente. Apesar da minha suposta grosseria, você me entende? Ou precisamente por causa dela.

O que é que sou aos olhos da maioria - uma nulidade ou um homem excêntrico ou desagradável - alguém que não tem uma situação na sociedade ou que não a terá; enfim, pouco menos que nada.

Bom, suponha que seja exatamente assim, então eu gostaria de mostrar por minha obra o que existe no coração de tal excêntrico, de tal nulidade. [...]

Ainda que frequentemente eu esteja na miséria, há contudo em mim uma harmonia e uma música calma e pura. Na mais pobre casinha, no mais sórdido cantinho, vejo quadros e desenhos. E meu espírito vai nesta direção por um impulso irresistível."

Ontem copiei esse trecho em uma carta, para enviar a uma amiga. Que me ligou pouco depois para confirmar meu endereço: está me enviando uma carta, com algum material sobre... Van Gogh.

Vida cíclica. Sincronicidade.