quinta-feira, 25 de junho de 2009

Franz Kafka

Alguns autores me intimidam. Não. O que dizem sobre alguns autores me intimida. Fico achando que são herméticos demais e não vou conseguir acompanhar. Afinal, aqueles luminares da literatura gastam páginas e páginas tratando do quão inacessível o autor é...

Isso acontecia com o Kafka. Ao mesmo tempo, tinha muita curiosidade: tenho uma queda por artistas perturbados.

Mais ou menos aos 17 anos, li "Um artista da fome" e gostei muito. Fiquei impressionada com aquela história, mas, não consegui entender o que tinha me pegado. Senti que algo me escapava. Fui relendo o conto no correr nos anos, e essa sensação só se esclareceu recentemente.

Depois, um amigo me falou de "Na galeria", um texto muito curto (acho que dois parágrafos), mas, tão profundamente intenso que me parece uma vertigem.

Há uns dois anos, criei coragem e enfrentei "O processo". Foi difícil, em parte porque o texto não foi consolidado por Kafka. Em parte porque é tão absurdo que incomoda. Na época, conversando com um conhecido, ele comentou que não aguentou ler "O processo". Seu desconforto foi tão grande que abandonou a leitura. Gostei muito, de novo.

E essa semana, peguei "A metamorfose", uma das histórias mais tristes que já li. Tão preciso e incisivo.

Vou ficando, assim, leitora de Kafka, o autor hermético.

terça-feira, 23 de junho de 2009

David Lynch Interview Project


Gosto de David Lynch e esse projeto lembra "História Real", um filme mais 'normal' e bem bonito dele.

O que é o Interview Project? Uma equipe rodou 21.000 milhas por 70 dias entrevistando pessoas pelos Estados Unidos. Os vídeos - 121 - serão postados a cada três dias, durante um ano. Infelizmente, só em inglês. Mas, as pessoas falam devagar e mesmo que a gente não entenda tudo, o rosto delas, as músicas já valem a pena.

A apresentação feita por Lynch está em "About". "People told their histories. It´s so fascinating to look and listen to people." Também acho...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Imagens

Então aquela pessoa distante de quem eu estava sentido tantas, tantas saudades fez contato ontem e venho pro trabalho me sentindo feliz por nada, lembrando...

Gosto muito de ver as pessoas dormindo, dessa chance de olhar o rosto do outro de pertinho, desarmado. Nesse caso, os cílios longos, o nariz reto que adoro, os cabelos desordenados quando estão compridos. A respiração.

E depois tem você, que acordou mais cedo, sentada na sala com um livro quando a porta se abre e o ser aparece, mais descabelado ainda, com as pernas maravilhosas de fora, ajustando os óculos no nariz e dizendo "bom dia!", cheio de sotaque.

O fim de semana perfeito, feliz...

Jane e seus romances

Uma das coisinhas que fiz nesse findis prolongado foi ler "Abadia de Northanger", que faltava na minha bibliografia básica.

Esse foi o primeiro livro de Jane Austen, escrito em 1797. Apesar de aceito para publicação em 1803, acabou só vindo a público em 1818, após a morte da autora. Não é o melhor de Austen, na minha opinião, mas, já dá pra identificar vários elementos que apareceriam mais tarde.

Como estava à toa, relacionei as semelhanças nas obras da inglesa: Abadia de Northanger, Razão e Sensibilidade, Orgulho e Preconceito, Emma, Mansfield Park e Persuasão. Jane Austen desenvolve tramas paralelas, mas, em cada obra considerei um casal principal.

Mocinha em situação econômica desfavorável: Catherine Morland (Abadia de Northanger), Eleanor Dashwood (Razão e Sensibilidade), Elizabeth Bennet (Orgulho e Preconceito), Fanny Price (Mansfield Park).

Herói em situação econômica superior à da mocinha: Henry Tillney (Abadia de Northanger), Edward Ferrars (Razão e Sensibilidade), Mr. Darcy (Orgulho e Preconceito), Edmund Bertram (Mansfield Park).

Em alguns casos, o herói é um segundo filho e depende de terceiros para alcançar a renda suficiente para o casal, porém, ele é sempre, por família, mais rico que a mocinha. Knightley, de "Emma", é tão rico quanto ela. Frederick Wentworth (Persuasão) foge a essa regra e esse é, exatamente, o mote do livro: a superação das condições desfavoráveis que impediam seu casamento com Anne Elliot.

Pais amorosos, porém, displicentes em relação à educação das filhas: essa característica não aparece apenas em "Emma".

Cavalheiro de moral duvidosa: Frederick Tillney (Abadia de Northanger), Willoughby (Razão e Sensibilidade), Wickham (Orgulho e Preconceito), Henry Crawford (Mansfield Park).

Dama de conduta inadequada: Isabella Thorpe (Abadia de Northanger), Lucy Steele (Razão e Sensibilidade), Lydia Bennet (Orgulho e Preconceito), Maria Bertram (Mansfield Park).

Personagem mais velho que se opõe ao amor do casal: General Tillney (Abadia de Northanger), Sra. Ferrars (Razão e Sensibilidade), Lady Catherine de Bourgh (Orgulho e Preconceito), Lady Russell (Persuasão).

Colocadas dessa forma, as obras de Jane Austen parecem todas muito iguais. A essa idéia básica, porém, a autora agrega tramas paralelas. Além disso, reflete a sociedade inglesa da época com fidelidade e ironia: a sujeição da mulher, as injustiças provocadas pelo direito de herança, a superficialidade da vida social, a fragilidade dos laços familiares...

Jane Austen é considerada por alguns a segunda mais importante figura literária inglesa, perdendo apenas para Shakespeare. Não concordo. Pra mim, apesar de seus romances progressivamente se tornarem mais complexos, faltou tempo para Austen construir uma obra que supere Charles Dickens, por exemplo.
Mas, isso é questão de gosto, talvez.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Band of Brothers

"Mr Dolito ficou feliz quando dei para ele, nesse domingo, a série Band of Brothers. São seis DVDs sobre guerra. [...] Então, o negócio foi ver os tais filmes de guerra, que Mr Dolito insiste que têm história, mas que não têm história nenhuma do ponto de vista das mulheres, já que não sabemos se os soldados têm irmãs, namoradas, vizinhas, hobbies, animais de estimação... Enfim..." - Gisele Rao.


Bem, eu estou no quarto DVD e me controlando pra não virar a madrugada assistindo a série toda.

Não, não sou fanática por histórias de guerra. Acho que assisti dois ou três filmes sobre o tema. Lembro de "Guerra e Paz", "A conquista da honra" e "Cartas de Iwo Jima". Não vi "A lista de Schindler", nem "O resgate do Soldado Ryan". Segunda Guerra também não é meu momento favorito da História. Mas, fiquei curiosa sobre "Band of Brothers" depois de ler comentários na imprensa. Aí um amigo comentou e emprestou o pacote.


Sempre me pergunto como seria viver em um país em guerra e o que eu faria. Lutaria? Seria voluntária? Me juntaria ao "silêncio dos bons"? Como se sobrevive a uma guerra? Como conviver com as perdas, os horrores e as lembranças? Com suas atitudes e omissões?

Honestamente, não sei. Mas, ver "Band of Brothers" me faz pensar que a guerra é como um catalisador que faz aflorar a essência de cada um, além das aparências e simulações da vida social. Talvez situações extremas tenham essa capacidade e por isso nos surpreenda tanto nos defrontarmos com a covardia tão bem dissimulada do dia a dia.

Fico observando também como a guerra mudou desde a década de 1940. Como tornou-se sofisticada, distante e mais letal.

Quanto ao comentário da Gisele Rao que postei no início... melhor não replicar, né?

Crepúsculo - O final



Acabei de ler a série no feriado ou, pelo menos, os quatro primeiros livros. Fica faltando a versão de Edward do primeiro.

Como diz C.S.Lewis, leitores curiosos não se prendem a classificações etárias e boas histórias são bons livros, não importa que idade o leitor tenha. O que dizer sobre Crepúsculo, então?

Dá pra entender por que atraiu tantos leitores, especialmente adolescentes: histórias de amores impossíveis seduzem gerações há séculos. Se isso envolve um herói romântico byroniano, sucesso quase certo.

Mas, se a gente já leu um pouco mais, não dá pra ignorar o quanto os personagens são fracos e lineares. A história, previsível, apesar das reviravoltas. E quanto o último livro é "forçado".

No geral? Ruim. Eu leio livros ruins às vezes, pra passar o tempo, mas, eles não ganham lugar na estante, nem segunda leitura.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Feira, de novo

Quase toda terça, a partir do ponto em que desço do ônibus, ando pela feira da Marcondes Salgado por 05 quarteirões. Não faço esse caminho quando estou muito triste (tem que ser muito mesmo) ou se estou atrasada (muito atrasada).


Na maior parte dos dias não compro nada. Fico só olhando, cheirando e ouvindo. Às vezes, apreço alguma coisa, como as cerejas, que estão caríssimas nessa época do ano. Hoje, andava lembrando da cena de Hugh Grant andando por Portobello Road em "Um lugar chamado Notting Hill" e comprei 06 laranjas e 02 maçãs.


Gosto muito de laranjas. Muito, muito mesmo. Quando penso no assunto, concluo que é minha fruta favorita. Laranjas e sua versão facilitada, as tangerinas. Gosto de laranjas pequenas, de casca lisa e brilhante, como essas da foto. Minha mãe me ensinou a comprá-las assim, quando eu era criança e íamos na feira da Santo Antônio. Minha mãe sempre pedia pra provar uma e eu ganhava a "tampinha".


Depois tem as maçãs. Não gosto muito de maçãs. Quando eu era criança, só se podia comprar maçãs argentinas, que sempre me pareceram uma enganação: lindas, reluzentes e sem sabor. Mais tarde, passei a comer maçãs fuji ou gala, que até acho saborosas, mas, não são campeãs de preferência. Juntando o fato de que não como maçãs com casca, definitivamente não sirvo pra Branca de Neve.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Irmão Urso

"Kenai, o caçula dos três irmãos, está prestes a receber o seu totem - um símbolo revelado pelos Grandes Espíritos Ancestrais que ajudará a guiá-lo durante a sua vida. Quando Tanana (a xamã da tribo) dá a ele um urso esculpido - o símbolo do amor - Kenai fica profundamente desapontado. Ele esperava algo um pouco mais imponente - como o totem da águia (representando a liderança) recebido por seu irmão mais velho, Sitka, ou o totem do lobo (representando a sabedoria) de seu irmão, Denahi."

A vida pode sair completamente diferente do que você pensou.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Para Angélica, que vive na Flórida

"Hello, Angel-Mix, como vai???? Ah, que bom saber das suas notícias, as grandiosas e as pequenininhas... fazem a gente se manter pertinho.

Pra começar, essa cidade enfrentou um frio de 4°C hoje... consegue acreditar???? Tudo bem, tudo bem, foi de madrugada, mas, desde ontem tem feito frio (para nossos padrões, é claro) e usamos blusas o DIA TODO, mesmo depois que o sol surge. Não é espantoso? Sol E frio em Ribeirão?

Essa é uma coisa legal: os dias estão bem outonais aqui, o que significa céus muito azuis e aquela luz linda que só o outono tem. Às 17h30 a gente já vê a noite chegando e quando dá 18h a cidade está com as luzes acesas. Mesmo fora dessa frente fria, as noites estão mais frescas e a gente já consegue dormir com uma cobertinha. :)

Eu continuo no mesmo trabalho, pensando em uns concursos e estudando um tantinho. A principal "gandaia", como diria seu biso, é o Vila Dionísio. Você chegou a conhecer, não? Puxa, na antevéspera da minha banca, eles apresentaram uma banda cover do U2... Angélica, querida, eu me acabei de dançar e cantar (embromation, of course). Fiquei com a voz meio imprestável, mas, beeeem feliz.

A banca. Você recebeu meus e-mails e eu recebi os seus. Gostei muito das colocações do Ubaldo e da Rosa e o resto... foi o resto. O melhor mesmo é quando, sem razão aparente, eu me lembro de que acabei o mestrado: fico leve e feliz feito criança de férias.

Estou menos obsessiva com Mr. Gaiman, mas, recomendo enfaticamente que você leia. Se não puder ler Sandman, Neverwhere e Good Omens são boas opções também. Ah, e tem um filme dele que gostei muito: Mirrormask. Estou lendo agora a série "Crepúsculo". Não é grande coisa, mas, eu sempre leio algo meio sem noção, né?

O que mais? Estou fazendo uma coleção liiiiiiiiiiiiiinda dos Sermões do Padre Vieira. Os livros são uma beleza mesmo, Angel... eu pego e suspiro, SEMPRE. Adoro esse português prolixo! Também quero completar minha discografia do U2, e nessas duas obsessões se vai todo o meu dinheiro. Bem, mas eu podia estar matando ou usando drogas, não é?

Ontem fiz brigadeiros pra comer vendo TV e lembrei de você.

Muitos beijos,"

terça-feira, 2 de junho de 2009

Comentando o comentário...

O último post recebeu um comentário dizendo que eu fui uma criança encantadora e que é uma pena não ter muitas fotos dessa fase... Bem, por amor à verdade, é preciso esclarecer algumas coisas.

"Encantadora" não é exatamente a palavra com que eu seria descrita na infância. Solitária, esquisitinha e feia está mais perto da verdade. O que nos leva à questão do número reduzido de fotos.

Depois que meus pais tiveram certeza de que eu "vingaria" (havia dúvidas sobre minha capacidade de sobrevivência nos primeiros anos...), eu ainda era TÃO feia que eles evitavam tirar fotos. A teoria é minha: meus pais não admitem. Nem negam.

Outro dia posto aqui uma das poucas provas: uma foto minha, aos 2-3 anos, com minhas irmãs. Sempre me lembra aquelas fotos de astronautas americanos com extraterrestres. Eu sou o ET, obviamente.

Portanto, apaguem as imagens felizes de garotinhas encantadoras e delicadas. Esse passado não me pertence. Simples assim...