quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Natal Simples

E as primeiras lembrancinhas são bolinhos de banana com castanha do Pará. Ou "brazilian christmas cakes" para a turma do inglês.

O que mais gosto no Natal: preparar presentes (especialmente na cozinha!) e coro natalino, principalmente em templos religiosos.

São a minha ideia da festa.

E a prefeitura resolveu sinalizar as esquinas, pintar o esfalto, colocar faixas. Uma pergunta e uma bronca.

A pergunta: se a rua é mão única - como a Prudente de Morais - porque  o asfalto diz para olhar para os dois lados?

A bronca: para mim, respeito ao pedestre seria criar o terceiro tempo nos semáforos de cruzamentos. Um tempo para os carros em cada sentido de direção e um tempo para o pedestre. Algum cruzamento da cidade tem isso?

Cruzamento São José e Prudente de Morais. Na Inglaterra,
as faixas dizem de onde vêm os carros. E nesse caso?


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sagrada Família

Estavam sentados no banco do ponto de ônibus, ao lado do Colégio Auxiliadora. Só eles, na fileira de quatro assentos, mas, havia gente por perto, esperando em pé ou passando.

O pai teria uns 40 e poucos anos. Vestia bermuda e camiseta simples. Moreno, cabelos crespos e curtos, usava óculos. No ombro esquerdo, a bolsa cor de rosa do bebê. Estava à direita, do meu ponto de vista.

A mãe, à esquerda, aparentava mais de 30 anos, também morena, cabelos médios. Usava calça jeans e camiseta.

A criança era uma menina morena, cabelinhos cacheados, shortinho e blusinha rosa. Cerca de um ano de idade.

 Pareciam pobres, mas, não miseráveis.

A mãe se inclinava para o pai, encostando a lateral do corpo no dele e conversavam.

A menina estava sentada no colo do pai, sobre uma espécie de edredom leve, rosa claro. A postura dele não era como a de alguns pais que não sabem bem o que fazer com o bebê: ele a abraçava, parecendo cuidadoso e carinhoso.

Então, a bebê começou a coçar a cabecinha, acima da orelha. Depois de um tempo, a mãe se inclinou para ver o que acontecia e começou, ela mesma, a coçar, bem de leve, o cabelinho da bebê. Mais um carinho que outra coisa.

Quando meu ônibus saiu, eles estavam assim. E eu fiquei tão encantada às 07h30 que nem consegui fazer uma foto.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Charlotte Rampling

Sábado revi "Coração Satânico" e lembrei que essa fulana trabalha nele: Margaret Krusemark, que acaba com o coração fora do peito. Lies and cruelty come very easily to some people.

Lembro bem dela em "O Veredito", meu filme favorito de tribunal (adoro, adoro, adoro). Ela é a v*%$# paga para boicotar o trabalho de Paul Newmann.

Mais? Ela é a diretora da "escola" em "Não me abandone jamais" e a mãe das irmãs de "Melancolia".

Impressionante.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011



Dia cinzento e chuvoso. Antes de ligar computadores, abrir janelas e portas, fiquei olhando a chuva. Como o ambiente está quieto, os barulhos da rua soam mais claros. Cada som perfeitamente distinto. Não tem música, eu não falo, nem penso. Silêncio.

Tenho prezado mais saber compartilhar o silêncio do que ter assuntos em comum.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

De novo...

"Meu desejo de harmonia e tranquilidade é tal que fico anos aturando coisas que não me agradam até que por fim começo a ficar ressentida - quando seria muito melhor dizer não, ou brigar, desde o início." Elizabeth Bishop em 03 de outubro de 1966.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Rises

O post do dia se chama "Begins", mas, eu ando vivendo "a dark night". "Rises", agora?

Espero que sim.

Begins


Ontem peguei um pedacinho de "Batman: Begins" na TV. Infelizmente, dublado. Mas, deu pra ver minha cena favorita mais uma vez.

Adoro Batman e tenho um problema com os filmes do Christopher Nolan: sempre que vejo um trechinho na TV, quero assistir de novo.

Há algum tempo atrás, comprei os dois DVDs e revejo de tempos em tempos, então, nem sei mais quantas vezes assisti os filmes.

Adoro Alfred e Michael Caine ficou perfeito no papel. Vejo e revejo as cenas dele, observando as emoções em seu rosto, em sua voz, na forma como se movimenta.

Minha cena favorita? A Mansão Wayne está sendo consumida por um incêndio, Bruce acabou de ofender a metade influente de Gotham e acha que não vai conseguir salvar a cidade da destruição. Sentado no elevador que leva à bat-caverna, ferido e chorando, diz a Alfred que fracassou miseravelmente.

O mordomo, lembrando da infância de Bruce, pergunta:

Alfred: Why do we fall sir? So we might learn to pick ourselves up.
Bruce: You still haven't given up on me?
Alfred: Never.

Lindo, lindo, lindo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A pele que habito

Faltou falar desse filme.

Gosto de Almodóvar. É meu diretor favorito, tenho quase todos os filmes e revejo frequentemente.

Acho que Almodóvar faz coisas que nenhum outro cineasta é capaz: toma elementos estranhos, talvez repulsivos à primeira vista, e olha para eles com tanto cuidado que consegue despertar identificação.

É como se ele mostrasse a personagem mais esdrúxula e a nossa primeira reação fosse: "que horror! eu não sou assim!". Mas, o olhar dele faz você se perguntar: "não mesmo?".

Isso é o que adoro nele: que mostre a nossa própria estranheza. Porque, pra mim, quanto mais descobrimos nossas inconsistências, mais aceitamos um mundo diverso.

"A pele que habito" me lembrou os primeiros filmes ("Matador", por exemplo), em que a estranheza era mais acentuada e o sexo como elemento de poder/força, mais destacado. Mas, o que me captou - além do título - foi Vicente/Vera.

Minha pele é meu lugar no mundo. É disso que jamais vou me separar. E nada que aconteça fora, pode me mudar. Nem dezenas de cirurgias plásticas. Nem roupas. Nem maquiagem. Nem o afeto -distorcido ou não - de outros.

O que eu sou está fora do alcance de qualquer força ou ameaça. Essa crença é o que me mantém lúcida nesse mundo doido. Ou "do contra", nesse mundo supostamente lúcido.

Enfim, foi um filme importante pra mim.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Baltasar e Blimunda


"Aproximam-se agora um homem que deixou a mão esquerda na guerra e uma mulher que veio ao mundo com o misterioso poder de ver o que há por trás da pele das pessoas. Ele chama-se Baltasar Mateus e tem a alcunha de Sete-Sóis, a ela conhecem-na pelo nome de Blimunda, e também pelo apodo de Sete-Luas que lhe foi acrescentado depois, porque está escrito que onde haja um sol terá de haver uma lua, e que só a presença conjunta e harmoniosa de um e do outro tornará habitável, pelo amor, a terra." José Saramago.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ironia

Eu estava lendo "Sentimento", um conto de Charles Dickens, quando me ocorreu a ideia de "presentes" de Natal para os meus amigos.

Aí, acabei relendo Dorothy Parker, que me lembrou Jane Austen.

Dizer que ingleses são irônicos é redundância. Mas, anos atrás, quando comecei a ler Jane Austen me surpreendi: ela nasceu em 1775, mulher, numa sociedade que privilegiava o primogênito. E é de uma ironia que beira o sarcasmo.

Pra quem viu os filmes, a cena inicial de "Razão e Sensibilidade" entre Fanny e o novo Sr. Dashwood dá uma medida da habilidade de Austen. Ou todas as cenas com o Sr. Bennet, em "Orgulho e Preconceito". Muito, muito bom.

Charles Dickens. "Um conto de Natal" e "Um conto de duas cidades" não têm nada de ironia. Mas, suas "short stories" são quase cínicas! "Sentimento", "Horácio Sparkins" e "Mr. Minnus e seu primo" são minhas favoritas: retratos divertidos e mordazes dos pretensiosos novos-ricos ingleses.

Dorothy Parker. Essa nasceu nos Estados Unidos e teve seu apogeu literário nos anos 1930. Não conhece nada? Corra e compre um livro agora, especialmente se você for mulher: são contos tragicômicos, que captam com precisão nossas incoerências. Um poeminha para ilustrar:

"Príncipe, uma lição lhe dou,
Cunhada no Éden e que jamais envelhece,
Fuja de festas, e evite o zôo -
Mulheres e elefantes nunca esquecem."

Diversão garantida ou seu dinheiro de volta.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Natal Pobre

Essa imagem acompanhava a seguinte manchete, de um jornal português: "Este vai ser o Natal mais pobre dos últimos 32 anos".

Pobre? Pra quem? De acordo com qual critério? E qual o problema com um Natal com menos consumo?

Nunca gostei do modo como comemoramos o Natal (aliás, não gosto das "Festas", mas, isso é assunto pra outro dia). Então, há algum tempo comecei a dar presentes muito simples, a fazer os presentes e, nesse ano, o passo final: não tem mais presentes.

Já tenho tudo de que preciso para viver. Já tenho muito do que me faz feliz - livros, CDs e DVDs. Então, disse pros amigos fazerem a si mesmos felizes ou transferirem meu presente para alguém que precisa.

Também não vou dar nada comprado. Só uma lembrancinha MUITO simples, que me ocorreu dias atrás. Nem é uma "coisa"...

A Dani já aderiu: doou meu presente pra uma família de Sertãozinho que perdeu o pai e todos os bens em um incêndio. ISSO é Natal.

Ainda não dá pra mudar o mundo, mas, no meu entorno, alguma coisa já mudou.