quinta-feira, 6 de outubro de 2011

dois momentos com meu pai

Meu pai fez cirurgia de catarata no sábado. Quando fui buscá-lo, ele estava com um dos olhos coberto, o que deixa a gente um pouco tonto. Então ele se apoiou no meu braço e fomos andando, bem devagar, até o carro.

Por conta da cirurgia, ele não pode abaixar a cabeça. Também não tem mais a flexibilidade de antes. Então ontem, antes de irmos comemorar o aniversário, ajudei-o a calçar as sandálias.

Por toda sua história, meu pai é muito calado, reservado, solitário. Mas, até porque somos parecidos, consigo perceber quanto amor vive nesse coração silencioso. E nesses dois momentos, tive a perfeita percepção de quanto eles eram preciosos.

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Para quem ainda não viu: visite o site de Phillip Toledano. Depois da morte da mãe, Phillip e o pai passaram a viver juntos e o filho registrou esses momentos. O site se tornou um livro e já tem versão em português - chama-se "Dias com meu pai".

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Esse post é para você Oz, que deixou um comentário que comoveu.

2 comentários:

cidissima disse...

Ju, meu ídolo nunca saiu da moda! Se vivo estivesse, meu pai teria mais vinte e seis anos. Vinte e seis anos de alegria, humildade, simplicidade, generosidade, bom humor e um ótimo contador de piadas.
E, além disso, eu teria em todos estes anos desfrutado mais da sua companhia.
Sábio, amigo dos filhos, nunca precisou usar da violência para educar, nunca abusou da autoridade para nos mostrar que era ele quem mandava.
Um homem com caráter ímpar. Uma educação exemplar que contrariava o ser humano. De onde tirou sua elegância no trato pessoal se pouco sentou num banco de escola!
Muitas vezes, não é o número de livros que capacita um homem e sim a forma equilibrada e humana com que ele trata seus semelhantes. É inerente quando especial.
Meu pai deixou como herança a simplicidade e o heroísmo de um homem esplêndido.
Ele foi um sensor das minhas habilidades. Se estivesse prestes a cair, sua força motriz equilibrava meus passos.
Ju, aproveite sempre a companhia de teu pai. Talvez este ar acrabunhado ou circunspecto, seja a parte refinada para um aperfeiçoamento espiritual.

Cida

Osvando Faria disse...

Obrigado, Ju, ao ler seu post lembrei-me de um artigo do Arthur da Távola, cujo final aqui reproduzo:
"Ser pai é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.
O máximo de convivência no máximo de solidão.
É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.
É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante."