quinta-feira, 28 de maio de 2009

Possibilidades

"A gente se acostuma com os cantos por onde anda e com as pessoas com quem convive, com nossas condições de vida e valores. A gente se acostuma com os próprios costumes e vai cultivando, assim, uma espécie de cegueira. Não vê que a vida é múltipla, irregular, e que os homens são criaturas que protagonizam novidades infinitas."

Isso está na coluna de Dulce Critelli, na Folha Equilíbrio de hoje.

Gostei muito da frase, exatamente porque gosto da variedade da vida. Por isso gosto de feira, de andar a pé pela cidade, de ir ao Centro no sábado pela manhã: todas aquelas pessoas e suas cores, escolhas e histórias.

O Centro da minha cidade - da maioria das cidades, eu imagino - é tão interessante: gente vendendo raízes milagrosas, pregadores, famílias com suas melhores roupas, crianças e velhos, estudantes realizando uma pesquisa qualquer, cegos vendendo bilhete, pobres pedindo, moradores de rua... e a lista pode seguir ao infinito. Ao infinito, porque a diversidade humana é ilimitada.

Gosto de andar olhando essas diversidades e imaginando minha vida daquele jeito: vivendo na rua, sendo homem, evangélico, policial, o louco da esquina... Em mim vivem todas essas possibilidades. Eu fiz algumas escolhas, que permitiram essa versão da minha história. Muitas outras não foram vividas.

Costumo pensar em outras profissões: se eu trabalhasse na saúde, por exemplo, preferiria ser enfermeira à médica. Arquiteta, em lugar de engenheira. E não tenho por certa minha sanidade ou o respeito à lei. Não estou segura se, com o estímulo certo, não seria capaz de matar, morrer ou enlouquecer.

Como se eu fosse um caleidoscópio: um giro e sou essa. Outro giro e mudei. Mas, sempre eu, assente sobre os mesmos pés.

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