segunda-feira, 4 de maio de 2009

Cartas

Terça passada João Pereira Coutinho falou sobre o desaparecimento das cartas em sua coluna na Folha. Uma série de coincidências antecedeu e sucedeu esse fato.

Eu havia recebido uma carta de duas ou três páginas no final de semana. Ando folheando as cartas de Vincent Van Gogh a seu irmão Theo. No Valor Econômico de quinta publica-se a resenha de um livro de cartas de amor (ao lado da resenha de um livro do João Coutinho!!!).

Na sexta à noite, abro aleatoriamente o livro de Van Gogh e leio essa carta, de 1882:

"Quero fazer desenhos que impressionem certas pessoas. [...]

Seja na figura, seja na paisagem, eu gostaria de exprimir não algo sentimentalmente melancólico, mas uma profunda dor.

Em suma, quero chegar ao ponto em que digam de minha obra: este homem sente profundamente, e este homem sente delicadamente. Apesar da minha suposta grosseria, você me entende? Ou precisamente por causa dela.

O que é que sou aos olhos da maioria - uma nulidade ou um homem excêntrico ou desagradável - alguém que não tem uma situação na sociedade ou que não a terá; enfim, pouco menos que nada.

Bom, suponha que seja exatamente assim, então eu gostaria de mostrar por minha obra o que existe no coração de tal excêntrico, de tal nulidade. [...]

Ainda que frequentemente eu esteja na miséria, há contudo em mim uma harmonia e uma música calma e pura. Na mais pobre casinha, no mais sórdido cantinho, vejo quadros e desenhos. E meu espírito vai nesta direção por um impulso irresistível."

Ontem copiei esse trecho em uma carta, para enviar a uma amiga. Que me ligou pouco depois para confirmar meu endereço: está me enviando uma carta, com algum material sobre... Van Gogh.

Vida cíclica. Sincronicidade.

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