terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A pele que habito

Faltou falar desse filme.

Gosto de Almodóvar. É meu diretor favorito, tenho quase todos os filmes e revejo frequentemente.

Acho que Almodóvar faz coisas que nenhum outro cineasta é capaz: toma elementos estranhos, talvez repulsivos à primeira vista, e olha para eles com tanto cuidado que consegue despertar identificação.

É como se ele mostrasse a personagem mais esdrúxula e a nossa primeira reação fosse: "que horror! eu não sou assim!". Mas, o olhar dele faz você se perguntar: "não mesmo?".

Isso é o que adoro nele: que mostre a nossa própria estranheza. Porque, pra mim, quanto mais descobrimos nossas inconsistências, mais aceitamos um mundo diverso.

"A pele que habito" me lembrou os primeiros filmes ("Matador", por exemplo), em que a estranheza era mais acentuada e o sexo como elemento de poder/força, mais destacado. Mas, o que me captou - além do título - foi Vicente/Vera.

Minha pele é meu lugar no mundo. É disso que jamais vou me separar. E nada que aconteça fora, pode me mudar. Nem dezenas de cirurgias plásticas. Nem roupas. Nem maquiagem. Nem o afeto -distorcido ou não - de outros.

O que eu sou está fora do alcance de qualquer força ou ameaça. Essa crença é o que me mantém lúcida nesse mundo doido. Ou "do contra", nesse mundo supostamente lúcido.

Enfim, foi um filme importante pra mim.

Um comentário:

cidissima disse...

Jú tiro o meu chapeu pra você! Como gosta e entende de Literatura e Cinema!!! É gratificante ler seus textos! Mas para poder responder à altura, preciso fazer uma leve pesquisa.
Não tenho paciência para a leitura. O cinema nunca me atraiu.
Sou uma pessoa privilegiada por escrever de maneira razoável.
Deus não abandona seus filhos. Tem coisas que ELE dá para a gente aprender!!!

Cida